30.12.06

Carlos Luanda e eu

(fotografia de Luis Sarmento)

Mexe-me a saliva

abro fruto, o lábio

em ondas

Sons

húmidos

de doces sabores

maças vermelhas e bocas

por entre as margens

limpam rios

do teu corpo.

Devagar …devagar

Umas após outras

em gomos

ou

peças de arte

sem palavras

sem nome

Dizem-se:

Apenas maçãs

A paixão

rolando

Arde-se

por entre os dedos

ao concavo das mãos

onde se afogam

reflexos

nus

sumo do amor e

os segredos

aparecem no cesto

peitos das minhas fomes.


Carlos Luanda e Ana maria costa.

29.12.06

como pétalas de ar
descem saudades às minhas mãos
Corto-as imagens do teu corpo.
No gelo enterro: não as noites ou os dias
mas as horas que o relógio esconde, no interior
na caixa do coração.

Sou um sofá sentado nos teus olhos
que acaricia as saudades no colo.
ana maria costa
28 de Dezembro de 2006

(fotografia Mário galvão Ferreira Galante)


28.12.06

Eliana Mora (Brasil) e Ana Mª Costa

(fotografia de Teresa Rocha)
I

Minha saudade parou

como um lago

quando nem brisa há.

E ficou a esperar, a esperar...


II



teu lago de veias

move o meu coração

o corpo
pára no lago

a brisa
espera na pele.



III


a fome espera na tarde


macia


sedenta


IV

é
na manhã
bronze


dura


lisa


que trinco os minutos.


V


lentos


como fardos, eles escorrem


e eu apenas a observar


a cena


VI


impeço com o dedo


o
embaciar do vidro


olho


o cuspo lento


da temperatura do dia.



VII

como que para retardá-lo


e pudesse [quem sabe]


sobreviver ainda


à falta tua


VIII



pára
o rio na boca do mar
e
os lábios secos
na humidade da língua
eu
não paro!
retardo-me
no vidro, corpo areia.


IX


e sigo
a alimentar-me de um fogo
fato, apenas
o leito
são mãos a permear-me


X


Bate
a marreta no peito
e
incessantemente
chispam
labaredas da boca.


XI


o caos espalha-se
como que a perceber os caminho
sem que voo


XII


queimo o corpo num fósforo
e
um grito dentro da garrafa
bóia
no mar de ossos.


XIII


rezo

para quem vão meus pedires
não me pergunte
eles seque saem daqui da garganta
talvez nem chore mais
rasga-se o mapa


XIV


ligo uma mangueira
dos meu olhos aos teus
siamesas
extinguimos falhas.


XV


e nos unimos

como gotas do mesmo orvalho
da mesma folha
para que na pureza
possamos conseguir a graça


XVI


abrimos o ventre do céu
entramos na luz parteira
e chupamos o mesmo dedo.



XVII


até encontrar o espaço
o regaço
a tão esperada paz


XVIII


a espera termina viva
_ na saudade!
a brisa
levanta-se da pele
o lago
mexe o corpo
e os teus olhos
levo-os
no meu cesto cheio de maçãs!


Eliana Mora e Ana Mª Costa


15 de Dezembro de 2006

26.12.06

Esta noite

(1000imagensnujosemaria)

Balanço o corpo no colo de um sofá
e alimento o rosto na argila do sangue do pântano.
Nas mãos, a paisagem ajoelha-se dentro do meu ventre.
No cais da gruta descubro o comando da melancolia e
ligo à televisão da minha janela, o sexo das tuas palavras.

A noite planto-as com laranjas.


©ana maria costa
25 de Dezembro de 2006
Comentário de um amigo do site do recantodasletras
Ana: Sei que não há "a imagem" de um poema, sei também que ela não se dá por completo, sei ainda que toda imagem "resulta de um complicado processo de organização perceptiva". Ora, no poema, ela "é uma palavra articulada" arrumada, é verdade, por vários fatores, talvez o principal, a metáfora. Neste poema, a despeito de tantas outras, acabei me detendo em "laranjas". O verso final se me parece boa síntese: a noite é fecunda. O corpo ao buscar o "repouso" exige que este ocorra alicerçado no nobre (sangue). Por isto, todo o ser é receptividade (janela); mas o "eu poético" age com plena consciência (mãos), ao mesmo tempo em que oferece a ternura, a proteção e o refúgio (ventre). Valeu!!!
Enviado por Ary Carlos Moura Cardoso em 26/12/2006 19:39para o texto"Esta noite"
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=3901

24.12.06

A estátua



Palavras para o ar!


No tecto, no candeeiro, as aranhas enrolam o nosso amor junto com as carcaças das moscas
e a luz funde a nossa dança: a nossa música desligada no interruptor, pára!
A cama desmaia no tapete e tomba a tua fotografia dos meu olhos.
Derreto os cotovelos nas ombreiras das portadas de vidro
e os dias que penduro no nariz, como piercings, são buracos no calendário, do ontem e do outro ontem!
-quando vens meu amor?
São os minutos pontes de nevoeiro entre o chão do meu corpo e a tua estátua?
Não fossem as paredes do meu quarto feitas com os teus cabelos e o soalho da tua pele;
hoje, não calçava o pensamento com os teus beijos.
Este texto, que escrevo, pode ser entendido como uma carta mas, para mim,
é uma biblioteca dos minutos que arde no pó das prateleiras, na lareira do meu corpo.



23 de Dezembro de 2006
©ana maria costa

21.12.06

Das horas púrpuras de Amina Ruthar e Ana Mª Costa







_ das horas púrpuras _

as vozes da casa silenciam em púrpuras horas

os minutos penduram-se nos pelos do meu corpo e

todas as minhas ausências sentam-se a mesa

excepto uma _ que guardo no bolso do peito

que ainda respira o último fôlego de memórias

nos rebentos de arvores jovens crescem

tímidas as palavras de seus recuos regressadas

dentro da gaveta da mesa saem costelas e

ancoram-se inutilmente entre vãos das portas

entre o trinque e a fechadura da campa

os passos de meu pai atravessando os sonhos

da terra fofa, mais húmus de carne do que de flores e

dizem de vesperais melancólicos sobre o jardim

lágrimas que regam os novos rebentos

e as mãos de minha mãe ainda alisando lutos

sobre o choro do lenço que a cobre à noite e

retiram o pó e fuligem do tempo que me devora

é esta a carne que tapa a cova do meu pai

em mudez plástica deus vai e vem como um tijolo:

o diabo põem-se no seu caminho com todo o inferno frio e

- esmaga minha história!

Amina Ruthar e Ana Mª Costa



20.12.06


(gravura retirada de:lecirquedenus-ebsqartlecirquedenus)


Há pessoas que nunca vão conseguir deixar de mentir!
Há gatos que nunca vão deixar de miar!
Há lágrimas que não vão deixar de aparecer até à idade de ser cadáver!
Há palavras novas que dizem coisas do pergaminho!
Há sentimentos que são velhos e da boca repetem-se, partos.
Há mentiras que mudam vidas mas não mudam a cor das lágrimas.
Há sangue que não é vermelho mas lava que cega os olhos.

Quando:


Há sempre uma forma de mentir para uma verdade!

Até:

Há confusão na humanidade - são as lágrimas rios de mentiras ou águas de verdade?

Ana Mª Costa





(fotografia de Patricia Cohen)

Tenho algo que treme ao teu deslizar .
Será voz ou imagem?

A dúvida deixo-a cair nos alicerces do verbo
e na ponte separo em partes a flor e o perfume.

Escolhe o vento fazer do destino um poema instantâneo
e nas águas mistura-nos ao papel!

Ana Maria Costa

16.12.06

Dedicado à Monica Correia

fotografia de Jorge Coimbra


A Mónica é um jardim de flores que ama palavras.

As sementes amadurecidas espalham das mãos de vento

sopros de ouro ou letras em metal.

Para o colo do sol salta o luar quando abre a sua janela

e senta-se no parapeito dos sentimentos

com as palavras que a noite acende.

No som do violino que toca da sua poesia

o beijo sai dos lábios nas madrugadas livres

e voa verbo das flores do seu jardim.



Ana Mª Costa

15.12.06


gravura retirada do insite: inlisboa lamento mas desconheço o autor _se alguém souber agradeço a sua divulgação!


Vale a pena
guardar o pó
nos meus olhos,
e alagá-los com as tuas sementes
para agora chorar o que vejo!

Ana Mª Costa
pintura de Nicolas Kuligowski


quando falas do silêncio
lembro-me de um pano branco
seco no galho de uma nuvem
no fundo do poço do céu.
O eco na imagem da água
é uma boca sem lábios
como são os arrepios sem pele.
Tapa o céu com o teu rosto
e fala-me do_ silêncio.

Ana Mª Costa

13.12.06

Fotografia: José Vaz Meneses




Dá-me a água e o sabão
quero lavar o meu silêncio
nas letras do teu poema.
Deixa-me enfeitar a minha história

com bolas de perfume
que flutuam do meu corpo
Com Cheiro de talco

e a pele de criança em pó
ou loção do frasco da palavra .
Dá-me o livro onde cresce um coelho,

com botas e a fala.
Nos dedos enrolam-se rebentos de amor

e os meus olhos vão lá dentro.
E, a poesia não é um animal, mas

a chave para a porta do nosso Interior
Dá-me um livro onde

pendure os poemas nas folhas e
a água e o sabão escorregam com o meu silêncio.
Deixa que o teu vento sopre a cor nas vírgulas,

nos pontos e nos espaços
E no papel os segredo de amor, com ouro ou

com diamantes limpam-se do
carvão dos sentidos.

Ana Mª Costa

7.12.06

Fotografia: autor desconhecido



no húmus a lágrima cresce madrugada
e o outono leva nas folhas
a tinta do velho amor
compro lindas roupas
uns lábios novos
e sacudo o verde da lapela
e das estações da pele
na roda dos meus aromas
cresce no meu útero
uma nova flor

Ana Maria Costa

5.12.06

Jorge Vicente e eu

Fotografia: Maria Clarinda Galante



Um poema treme ao deslizar do papel

a voz instantânea de quem tudo vê

e sente e ouve deslizo o meu corpo

quando escrevo páginas de sangue as

minhas as do mundo todo eu

sou o mundo todo em todas as palavras

e em todos os silêncios entre as palavras

Jorge Vicente


Escorrem do meu corpo silêncios para o papel [silêncio?…]

misturam-se no teu sangue e faz-se outro mundo_ o nosso!

Sem sexo, sem ventre aparece instantâneo

no traço verga-se as curvas no espírito das nossas palavras

e dos seios das imagens abrem trémulos os bicos de luz.

Ana Mª Costa

4.12.06

Um mimo


Fotografia: Helder Almeida



Este blog foi um mimo da uma poetisa, que pede anonimato, convidada da minha lista de poesia "Amantedasleituras".

Quis oferecê-lo como se fosse um ramo de flores.

Envio um cheiro (como dizem as migas brasileiras)

Obrigada Poetisa!

jinhos

Ana

1.12.06

Poesia declamada por Luis Gaspar*Estúdio Raposa

Está online o novo programa do Estúdio Raposa "Lugar aos Outros" de Luis Gaspar, onde se pode ouvir três poemas da minha autoria.

Ouça e comente.

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