28.10.07

Desafio da semana de poesia da lista Amantedasleituras



Desafio da semana 36-07:
nota: todos os desafios da semana de poesia são moderados pelo amigo e Poeta Luís Monteiro da Cunha.

TEMA: "Há sempre uma forma / de mentir para uma verdade!"
Ana Mª Costa , in: " Há "


01


Fossem as flores
mananciais de amor - as cores
suas expressões.
Fossem os oceanos
lágrimas irrompidas da dor - as chuvas
o viçoso alívio dos corações.

Fossem os sorrisos
o brilho do sol – as memórias
o cintilar das estrelas.
Fosse a serenidade
o corpo estendido no lençol – o poema
fantasias espelhadas em verdade ao lê-las.

02


fossem imagens a sussurrar, a convidar
e eu as aceitaria, mesmo que o caminho
não fosse como no tempo do sonho

ficção beirando a verdade não mente

não mais do que as histórias sinceras
que contei, quando não via miragens.

03


Ah... tanto azul
para lá desse mar.
Aflito por morrer
e renascer mil vezes
e outras mil
fingir ser maior
que o morrer
e renascer
com que em ti
um novo azul intento...

04

sim há sempre a forma
um desejo um desenho
um destino
uma aurora
há sempre um dado e um canto
um parto um porto
um santo
há sempre a hora do sonho
de estar bem vivo ou morto
e na verdade
da própria somos pouco sabedores:
mentimos que foi-se a sorte
que a dor é só do poeta
que temos até - amores.


05

quando fogem os olhos dos olhos
quando disfarças com um ( não sei )
quando vestes falsa simpatia
quando receias que
outros possam tirar-te o palco da ribalta
( o umbigo fala mais que o coração)
e nele só tens a cartilha fingida da religião,
há sim! há sempre uma forma de mentir
para uma verdade que convém.
não seja a história...uma repetição
de mentiras...


06
devo mentir para salvar a humanidade
a flor de um ser humano, devo mentir
antes que a flor seja assassinada

num bosque onde dormirei a lágrima


07

Todo desejo indiscreto escondido é espelho
reflexo a ondular a alma que arde e encanta
a voz com timbre metal que fere a serenidade
onde há múltiplas formações orgânicas
plantas são regadas - gotas e novas circunstâncias
conto com a compreensão dos nós da madeira
na luz e nas trevas cheia de círculos e inverdades
em dias em que a água cai sem anunciar os estudos
a linguagem humana cheira raízes na terra
trago no corpo um vaso de flores frutos e sementes
poemas são balés nos cabelos do vento do norte
nos rios marolas se perpetuam até as ondas de sal


08
Na mesma religião o que rezamos é distinto
Na paleta das cores pintamos o mundo diferente.
Eu minto de vermelho os meus dias de amor
E tu mentes de escuro os meus dias por despeito,
Mas há que cores não se misturam na verdade do sol.


09
O sol morre todos os dias
Por todos os amantes
Que anseiam nas estrelas
O luar dos mares navegantes
No brilho dos nossos olhos
Nasce um farol de sonhos
Terno e justo de instantes

10
Quantas vezes
a bandeira da verdade
icei na minha janela
e a porta abri ao mensageiro
que supus o mais verdadeiro
porém em mim
esse eu sincero mentindo
porque toda a verdade
é uma mentira fingida
ou não fosse a vida
em cada dia surgindo
a necessidade de mentir
ao próprio sentir.


…,…


Índice de autores:


01 – Vera Carvalho
02 – Sónia Regina
03 – Carlos Luanda
04 – Eliana Mora
05 – Ísis
06 – José Gil
07 – Rosangela Aliberti
08 – Mónica Correia
09 – Luís Monteiro da Cunha
10 - Bernardete Costa

20.10.07

Desafio da semana de poesia da lista Amantedasleituras



TEMA: "um delicado pólen a penetrar/em minha tenra/flor"
de Eliana Mora, in – " Pacto com um sol de primavera"


01
magia
ou como se existisse
dentro da escuridão o branco trinca
como pedra pura, diamante

noite!
em que simbologia
onde mais incorporar desvios sombras ou olhar
treme que a pulsão que é tua
atónita pergunta

clara/mente
criatura a esperar a chama tua
muda completa e portentosa
lança escrava e bárbara a procurar o segredo
desta rosa

e a mandala ergue-se e agita todos os tormentos
soma-se à luz
sagra-se

[e a vida grita
02
Orvalha a manhã na verdura das folhas
e as pétalas que se abrem em rubro
unem-se em poema veludoso.
São jardins as mãos de poeta

03
oficina do corpo no barro fértil
da flor como um murmúrio
no teu ouvido forte e limpo
só flauta, assobio lento
teu corpo de mimo no lençol
parede clara para o novo
barro liso e claro
04
ah, mas foi o vento, essa imodesta
inquietação, suspensa presença,
que me ensinou a manter-me fresca
e sensível, passeando vagarosamente
por minha tez aveludada

com ele aprendi a receber o resgatável
pólen no impreciso vôo, na sua descida
ao fundo da minha delicadeza

aprendi a saboreá-lo, a domar a humidade
das minhas pétalas que o aguardam
- nuas de sorriso, como num rito –
no momento solene da penetração

05
Cada gota é um sol de pétalas
Sonoras como madrugadas
Entre lençóis de sede rubra
Na sede dos corpos plenos
É o pólen que excita a flor
Não só o estilete ruborizado
Incendeia a terra eterna
Pelo estigma do futuro
Ávido de braços candentes
06
Minha flor não é mais tenra flor
e sua terra talvez seja o leito de meus grãos
em meu espasmo de inquietação
porque ora delicada ora agreste
sua nuvem de pólen habita ainda por entre
as membranas duma fotografia
Em mim esta respiração que dos frutos colho
das lembranças em minha geografia.
07
Entre as mãos te seguro
Pedaço do qual sou feito.
Corpo de terra
sonho de mim,
Água de lábios,
areal sem fim.
Mar numa gota
de suor feito veias.
Onde sou nau e velame
e já não sou nem mais eu.
E entre o sempre
dos milénios
condensados
no eterno voo
dum momento,
Solta-se-me dos olhos
o pólen imergente,
da luz, a semente
que povoa os céus.
08
talvez não mais sejas tu a colher-me
das pétalas o fruto e, se gemes no leito
com o descanso da tua paisagem,
é porque nesse insólito fertilizar
divagaste pelo avesso

mais do que a chuva que não desliza,
altera a terra o suor que navegaste
e a vaporizou, névoa, delicadamente

o sol que nasce de um momento breve
(ainda que de esmaecido vôo) fica
eterno na memória do pólen, dia alongado

na hora da germinação a luz adormece,
os céus paralisam e se esvazia
de qualquer ímpeto o cenário.

09
o mel

à boca da flor

Abre um sol

10
na pura manhã
um bilhete da Lua:
eu vi!


Índice de autores:

01 – Eliana Mora
02 – Vera Carvalho
03 – José Gil
04 – Sónia Regina
05 – Luís Monteiro da Cunha
06 – Bernardete Costa
07 – Carlos Luanda
08 – Sónia Regina
09 – Ana Maria Costa
10 – Eliana Mora

Desafio da semana de poesia da lista Amantedasleituras

Desafio da semana 34-07:
TEMA: "Resistes à alquimia/de converter lágrimas em corais."
Manuel C. Amor, in: - “Evocação abrilina”






01
A princípio era de se esperar...
Que os fios escurecessem no tempo
No drama e na comédia
No silêncio e sorriso da ventania
Era de esperar...
Que os cabelos caíssem e clareassem
A cada nova estação
Onde das pedras brotam as gotas de Jó
Quando os dias eram todos iguais as noites...
Onde as noites sem lua alcançam a Iluminação

02
acolhe a incerteza na lágrima,
deixa que a alquimia prossiga
e converta os sentidos

vês os corais além da linha d'água?

poetas também emergem dos poemas
e são mais que episódios metafísicos

03
em gestos alquímicos me transmuto
na nicotina sépia do retrato
aveludada pele dos teus ombros
em que me busco

líquida figura de orvalho
que a manhã esquecerá


04
o que não era de se supor,
da lágrima fica. a vontade

vive
nos corais.

05
Nunca resisto às lágrimas
trazidas dum coração de coral.
Lapidam o ausente rosto.

06
Se fosse possível descrever
A audácia dos homens:
– apenas uma lágrima –
bastaria
Preencheria o mar
dos orgulhos
de corais vencidos

07
Ai o lamento dos vencidos!
Desses de quem a História não fala
Condenados aos porões e ao chicote...
Não são gente, são uma massa
de carne quase morta.
A quem devo a vida?
Não ao amo que me despreza.
Não à clemência da sua espada
Apenas à vontade
duma lágrima minha
que guardo na ponta da adaga.
Para o dia em que liberta
voe em céu pelo rosto
a minha luz reconquistada!

;;;;;;;

Índice de autores:
01 – Rosangela Aliberti
02 – Sónia Regina
03 – Jorge Casimiro
04 – Sónia Regina
05 – Ana Maria Costa
06 – lmc
07 – Carlos Luanda

ABITTAR o poeta dos grilos


Gestos fáceis
Uma palavra amiga
Um ouvido atento
A atenção dispensada
Na hora certa
Em que se precisava
E o que precisamos
Às vezes é apenas
De atenção
Sentir que fazemos parte
Da parte humana
Do planeta
Coisas simples
Um sorriso sincero
Um olhar amigável
Precisamos de tão pouco
Às vezes para sermos felizes
E nem sempre as temos
E quando as temos
É tão fácil dizer:- Obrigado!
ABittar
poetadosgrilos


Soube que fizestes anos e esta é a minha surpresa, atrasada, mas sentida.
PARABÉNS AMIGO

Análise crítica de Maria José Limeira

pintura

CIÊNCIA DOS VERSOS
Um intertexto de Francisco Coimbra & Ana Maria Costa

(Análise crítica)

Maria José Limeira

Bem, amigos, esta é a primeira vez que tento analisar
criticamente uma intertextualidade nas listas,
lembrando, contudo, que intertextualidade não é
simplesmente copiar, com outras palavras, o poema
alheio,e assiná-lo como seu. É tomar o texto de outrem
como “mote” e criar um texto novo, dentro daquele
assunto. Copiar texto alheio é plágio, apropriação
indébita, e crime que dá cadeia.
(“Intertextualidade: Na elaboração dum texto
literário, a absorção e transformação de uma
multiplicidade de outros textos.” – Dicionário Aurélio
Século XXI).
Estes textos de Francisco Coimbra e Ana Maria Costa
enfeixados sob o título geral de “Ciência dos versos”
(belíssimo título!) têm tudo a ver entre si, sem
cópiar um ao outro.
Apenas os autores tomam como base o “rio” em toda sua
pujança e verdade – e em linguagem poética a toda
prova – onde tudo é ora “riso” ora “águas correntes”,
e a palavra “rio” transforma-se, pelo menos em
Francisco Coimbra, numa brincadeira, onde o eu-lírico
é isto e/ou aquilo, ora sendo e ora deixando de ser...
Já em Ana Maria Costa, o discurso é circunspecto e
filosófico.
Em resumo: trata-se de justificar a Poesia.
Poesia aqui vira paroxismo.
Estes versos são de uma criatividade exemplar e
cumprem a verdadeira função da Poesia, onde linguagem
e sentimento se completam.
Em ambos os textos, fala-se de Poesia e da força
emotiva que a impulsiona.
No primeiro poema, o discurso é amplo, mas
“brincadeiro”.
No segundo, a autora, ao resumir o enunciado à
concisão máxima, interioriza, sem fugir do tema, o que
seu parceiro exteriorizara.
Observem, por exemplo, os elementos “rio”, “pedra”,
“mar”, “chuva”, que Francisco Coimbra usa para dar
sentido e coerência aos seus versos.
Quanto ao texto da autora Ana Maria Costa, são
“silêncio” e “alma” as forças construtivas que
orientam o discurso poético, sem perder de vista o
tema original proposto pelo outro poeta.
Gostei muitíssimo!

(Maria José Limeira é escritora e doce jornalista
democrática de João Pessoa-PB)
.............

CIÊNCIA DOS VERSOS
Francisco Coimbra / Ana Maria Costa

rio-me dos que levam a Poesia muito a sério,
rio-me sem fazer barulho...

eu que sou rio para deixar correr
as palavras rumo ao mar

rio-me como uma pedra na margem
onde é mais lenta a carícia
das águas onde me rio

de ser água e evaporar-me
de cair e ser chuva
de me infiltrar

na consciência dos versos

Abraços,
Francisco Coimbra
(Amante das Leituras)
...........

Quando choro a poesia, despejo-a de mim
para o silêncio.
Mas o peito limpo das águas
é como uma pedra vazia
que flutua na minha alma.

Ana Maria Costa
12 de Outubro de 2007

13.10.07

Sob a epígrafe de Francisco Coimbra

"rio-me dos que levam a Poesia muito a sério,

rio-me sem fazer barulho...

Francisco Coimbra "



Quando choro a poesia, despejo-a de mim
para o silêncio.
Mas o peito limpo das águas
é como uma pedra vazia
que flutua na minha alma.


Ana Maria Costa
12 de Outubro de 2007

10.10.07

Desafio da semana da lista de poesia "Amantedasleituras


imagem

"Há mais cores no arco-íris do que os o lhos enxergam..."
Denilson Neves; in – "que me importa"



01


Não quero!
Simplesmente não quero!
Sei que me mentem
quando por toda a parte
a ilusão de luz que se sente
é essa ditadura das cores
que as cores impõem à gente.
Alguém sabe o que é a cor?
Não quero essa resposta
das frequências
explicadas em nanométricas inteligências.
Nem fracções de energia,
ondulatória ou pulsantes.
Não! Essa explicação é a sua armadilha
O recinto de pensamento
Onde nos encerra convencidos
que sabendo coisas das cores,
O mundo de cores está entendido.

Ilusão!

As cores não são o que são,

São o que elas querem que pensemos

quando pensando nelas o mundo prendemos

nessa jaula de cores

que pelo facto de serem as que nós vemos

ao sermos escolhidos por elas

julgamos ser elas, as que nós escolhemos.


02


Quais são as faces de um galho torto?
...o que tem por detrás da ovelha negra
como cheira a orelha de um morto?
Qual a cor da palavra sorte
O que traz comoção a voz?
O porquê do vazio no abdome...
Por que há dor ao encarar o sol?
Quais as músicas que fazem brilhar a íris
ao se sorrir em silêncio
com a visão da formação de um arco-íris?


03


coroados céus em luzes multicores
profética passagem alada imagem
nela o homem não governa
o destino que nos mortais impera
tempo não tem limite de idade
nem alma ausente verbo provir
nada detém a cor do arco íris
no trajecto supremo da vontade
equações dos céus são taças cheias...
e nossos olhos jamais atingirão
a plenitude de cores feiticeiras
se não escutar primeiro...o coração!!!


04


Um dia saberemos onde toca o teu pé, os helicópteros
andam nos céus a ver o transito. Os noticiários repetem
o arco íris dos factos dos que se aproximam, compensa
menos levar a sério o desenvolvimento económico, que
me importa saber dez vezes que vai chover na tua terra?
Nesta radiografia a ausência total de respostas fica
o corpo celeste na mata da cruz, ouve, ouve-te


05


Que me importa as cores do arco-íris!
Elas são poucas para alimentar meu ego.
O ego do poeta é insaciável;
ele mergulha nos cristais do imaginário
para buscar fragmentos marginais
e transformá-los, concretizá-los,
dar alma concreta ao que existe de belo
em cada fragmento dos fragmentos.
A humanidade é um aglomerado de fragmentos
girando no espaço terra,
em torno de si mesmo,
buscando a rota que leva à origem de tudo.
Por isso não me importa as cores do arco-íris.
Importa muito mais as cores dos olhos Amanda
que é sangue do meu sangue,
fragmento que dará continuidade à espécie,
í é o arco-íris quem arrebata
todas as tonalidades dos olhos/coração
de Amanda e outras amandas
que povoam este Planeta terra,
cheio de luzes,
cheio de arco-íris.
cheio de vida.


06


… quando enlaçados, bem juntos, comunhão intensa,
dois corpos se unem, partilhando quereres perfeitos,
esvoaçando por céus,
fazendo dos sonhos,
meus,
imaginando outras cores,
nos entregamos à voragem
da paixão que nos consome,
deixando de ser homem,
no corpo duma mulher,
nos braços que recebe
desejos que são teus,

uníssonos, em amálgama,
clímax se produz
no recesso duma cama,
objecto que se inflama,
lençóis que nos cobrem
maravilhas que vemos,
momentos que temos,
amor que se partilha,

no meio de tantos caminhos,
carícias afagos, beijos,
incontáveis torvelinhos,
montes de encantamento,
graal, cálice santo, receptáculo,
vale da criação,
sem obstáculo,

eterno feminino,
adoração,
menir gigante,
exaltação,
erectus penetrante,
entoação de encanto,
um hino,
rendidos, lado a lado, prostração,

profunda adoração,
cores que modificam,
se esvaem, intensificam,
alucinação,

confusa viagem,
magia que transforma,
sede que inebria,
noite que se faz dia,
acalmia, tão grande fome
recebendo toque divino,
formando união de facto,

conjugação dum acto
que nos seduz, reluz,
nos conduz num arco-íris
em coche feito de prata,
enxergamos coloridos mais densos,
tons de profunda luxúria,
apensos,

no gozo, na formosura,
no prazer que possuímos,
teus olhos que são meus,
nos meus que Deus me deu,
quando choramos, quando rimos,

no âmago que completa,
vida que recomeça,
prolongamento do que somos,
quando nos entregamos,
quando fomos
Deuses, num vasto Olimpo,
dois Mundos no infinito,

quase rogo, quase afirmo,
naquela entrega sem enganos,
cores tão lindas, diversas,
vários tons, tamanhos,
enxergados num curto hiato
por olhos que nunca viram,
quando riram,
choraram… sentiram!!!


07


não te projetes
nas cores
fora do pó
um engodo
como doces
desmancham-se
maya
água diluída
ao longe,
além dos olhos
apaga-se

na memória
um momento
chique


08


você vê? Que lindo é o arco!
Reparo então
na íris; dos teus olhos
sobressai essa cor brilhante; especial.
Coroação
suprema da vida; o instante similar
brilho matinal: quando
todas as cores se anulam
dançando, funda-se
- anil de mundo - até
ao cerúleo sepulcral


09


serão os sonhos
as cores do arco-íris que não vejo?
O verde grama dos olhos esperançosos,
o Urucum do sangue vivo dos marginalizados,
o azul alice da paz ?
Sinto-me adormecida
na cegueira da exactidão da Terra
e não vejo para além do vítreo.


10


não te projetes fora do pó e das uvas
se os sonhos deixaste no reino doce
da dona do mundo, princesa
das mil cores para além dos olhos
enovelado em espuma pessoal
meu vigor tocou-a, bálsamo,
o coração alegre


Índice de autores:


01 – Carlos Luanda
02 – Rosangela Aliberti
03 – Ísis
04 – José Gil
05 – JASilva
06 – Manuel Xarepe
07 – Sónia Regina
08 – Luís Monteiro da Cunha
09 – Vera Carvalho
10 – Sónia Regina

4.10.07

Distância




Apareço na minha voz!

Na fenda da língua

Ecoo (me) ...


Ana Maria Costa
03 de Outubro

Desafio de poesia da lista "Amantedasleituras"


"a borboleta brilha como quem chama… grita a palavra fim "
de Xavier Zarco, in: "aguarda a seara a ceifeira"

01
Brilhas mais que o sol
entre as folhas do tempo
retalhado.
O grito nos intervalos
e gargantas de ninguém.
Posas nua
e é o meu olhar
que pelo teu corpo esvoaça.
E no instante que não quer que passe

empurra o tempo...

02
... efémera borboleta, parpadeante, quando se avista,
mancha de tinta numa paleta, adeus constante que se afasta,
contrasta,
campos vazios,
transparências coloridas, asas que foram desafios,
searas sem ceifeiras, semáforos ineficazes
em ruralidades fugazes,

sinfonia que se esfumou,
dum tempo que já passou,

canção da terra numa crisálida desiludida,
longe do ciclo perfeito, constante renascer,
casulo em que a lagarta se cerra,
retornando, porque perdida,
ínfimo apontamento em que se enterra,
papoila esvoaçante que não despega,
hesitante, fechando belezas,
seus brios,

promessa que foi relance, curta existência,
formosura arrastada por um sopro,
alcance,
brilhando ao entardecer,
beijo silencioso,
adocicado,
leve,
macio,
recomeço do que acaba,
mesmo que persista num lapso, momento,
ternura
numa forma, esplendor numa gravura,

encaixe na retina,
aglomerado esbelto de cor,
asas que batem mansamente, fazendo parte do vento,
linda, bela,
levemente,
lá vai ela,

misturada nas searas d´outrora que se estendiam
a perder de vista,
oceanos verdes que nos sorriam,
vergando, quando sopradas,
onduladas,
pintalgadas de papoilas vermelhas,

borboletas luxuriosas,
pontos que embelezavam
quando voavam,
passavam,
acompanhando ritmo da natureza,
buscando destinos comuns,
equilíbrio natural, rusticidade pujante,
tão formosas,
bem distintas,

lagartas que agora congelam, param na evolução,
transformação,
tempos que tudo alteram nos campos,
insensata negação,
ceifeiras que são extemporâneas visões,
searas inexistentes,
transparência que se não aprecia,
borboleta d´asas rendadas,
recordação,
fim dum encantamento,
numa época... afastamento!!!...
03
chama a chama que te ilumina
como uma borboleta na parede
onde o teu corpo te espera
lindo o fogo que a verdade encerra
no limite das asas da borboleta
como um cão a ladrar dentro
do poema
04
fala palavras
que nos apertam

o vôo da borboleta,
nesta manhã

magia que brilha
chama... gritam

no meu corpo
os ecos da noite,
sonolentos
bêbados sons

05
Ao abrigo do sol
a voz febril dos sonhos
oculta
a cada novo fonema,
o canto do melro
o vôo da borboleta indefesa
- grita a essência
da palavra -
06
brilha, ainda tens luz própria
em tuas asas

que não seja pelo chamamento,
o teu brilho, mas pelo prazer
de seres
e por esqueceres, por fim,
o que te iluminava

por ti a manhã morde o pensamento

voa com ele no cinza,
e também no azul. desfruta.
o amor é sentimentalismo, deixa-o
(fica bem na poesia dos humanos)

nada te cerceia a vida, ou prende o vôo
– sabes - a não ser tu mesma.

07
Pareces saber que é teu
Todo o tempo do mundo
Afadigas as asas na descoberta
De olores mais belos e sôfregos
Que o prazer algum dia descobriu
O minuto é apenas a eternidade
Porque catalogar a existência
Do muito apoucado de que sobrevive
Se a ânsia é o motor voraz das coisas
e as sobrevoa sem que se aquiete
nunca brilhará na chama
porque existir
08
O pintor precisa da tinta
para pintar poesias,
o poeta precisa de palavras
supra-sumo da essência
de todas as cores,
para pintar poemas
consubstanciados na vida.

A borboleta não tem cores,
ela é colorida!
As cores é do poeta,
as cores são minhas
que tento colorir
o mundo em poesias.
para pintar a vida

09
Observo-te nua de cores
Asas o vento mastiga ao teu redor
Alma sincera te aguarda
Destino dos homens devorar de ti
O que a alma guarda.

Por entre pétalas pestanejando
Sobrevoando o rio materno
Água doce da cor de um sonho
Agarra-te consumida
Nas mãos do Inverno.

Observo-te nua e perfeita
Num ritual sombreado de desconjuntura
São palavras mentidas ao vento
Nos lábios despidos de ternura.

Vestes do pó da terra a vida
Lá longe ainda se escutam sorrisos
não fosse o horizonte tão distante
Serias tu verdadeira e nós, submissos.

Respira-se ainda um pouco de sol
Rasgaste os céus com palavras mudas
As mãos no alto suplicam a um deus
Que tragas voando nas asas tuas.

Esperança...

Esperança.

10
e da queda do verso volta
a palavra, com vários solos
agarrados à pele
sim, é meu o tempo de trabalhar
a voz, estudo a poética do timbre

sua dentro de mim outro corpo
odores belos com sofreguidão
mantêm meus poros abertos

e o poema Vibra.
vibra como a flama
em cada beijo-borboleta
e cheira a suor a morte,
transfigurada em vida

somos discípula e mestre.
mais nenhuma revelação é possível,
nem é permeável a carne
com que construímos o poema.

11
... queda do verso, palavras que caem,
jeito que tem
quando convém,
poro que respira,
pele que sua,
imagem bonita, permeável que vibra,
timbre que soa,
borboleta que voa,

poética, também,
espelho côncavo, deturpante,
enganador,
figura que distorce realidade diminuta,
pequeno gigante,
todo um senhor,

extrapola-se a fonte, disfarça-se a matriz,
quase se contradiz,
sonho frontal, seara que espalha,
vento que não bule numa tarde calma,

asas com ritmo, belas, lentas,
paragem que tentas,
colapso tardio
que se arrasta, final do que esperas
naquelas terras,
quantas Primaveras,
início do Estio,

parábola que espanta,
sem doutrina moral, alegoria,
simples geometria,
equidistante dum foco, duma directriz,
como quem diz,
curva num plano
que não finge...
sem engano!!!...
12
há animais que nos ensinam
a arte das formas e cores
é assim uma borboleta
bela voando sobre flores
querendo captar do seu voo
um poema mal a descreve
nu desejo de deixar um ovo
e já «grita a palavra fim»
FIM
::: \/\/ :::
Índice de autores:
01 – Carlos Luanda
02 – Manuel Xarepe
03 – José Gil
04 – Sónia Regina
05 – Andréa Motta
06 – Sónia Regina
07 – LMCunha
08 – JASilva
09 – Paulo Themudo
10 – Sónia Regina
11 – Manuel Xarepe
12 – Francisco Coimbra

Desafio de leitura

Desafio lançado por Jorge Vicente, Amoralva:

1- Pegar no livro mais próximo

2- Abri-lo na página 161

3- Procurar a 5ª frase completa

4- Colocar a frase no blog

5- Não escolher a melhor frase nem o melhor livro (usar o mais próximo)

6- Passar o desafio a 5 pessoas

"Faltava uma terceira: porque é que o destino nos tinha juntado?"

(Paulo Coelho, O Zahír, pg. 161)

As 5 pessoas:

Zénite , João Parreira , Francisco Sobreira, Ell , Auréllio

Minho actual tv