29.3.09

Ana Maria Costa







Na minha vida dormem flores!
Na sombra do corpo
a árvore acorda simples.

Ana Maria Costa

17.3.09

17 de Março de 1966


"Nacimento

Ramos de silêncio vermelho pousam na palavra ANIVERSÁRIO. Embranquecida. Na madeira, Março carrega-me 24 horas: crava-me as asas nos acentos com pó; duro, fresco. Desfaz o meu corpo, a minha carne com um chicote e retira a raiz da língua. Jorra a frase, o poema, na mágoa da garganta.

Nascer nos nervos de Março!


Ana Maria Costa
17 de Março de 2009

13.3.09

Poema


Gostaria de tirar todo o frio que sinto dentro de mim,
deixa-lo nas tuas mãos para o deitares fora .
Amarga-me este emaranhado de pedras soltas dentro das costelas,
se me emprestares um pouco do teu calor podia derretê-las, expulsá-las na urina
Parece que as minhas temperaturas não se entendem com a minha alma e lutam constantemente
contra os ossos. Estimaria ter menos variações ocultas que o vento arroja nesta passagem para a Primavera…
já são tão poucos os ossos que te restam na paciência que o teu pensar torna-se vacilante.

Ana Maria Costa 12.02.2009

6.3.09

Março



Março
Morre Mãe! Abre uma cova perto da tua extinção no calendário, para que possas assistir inútil, só com um murmúrio de lágrimas, ao permitido pelo Demónio.Em Fevereiro aflige a proximidade dessa destruição. Mas sabes mãe, já não te abato mais com o que escrevo; é Março, o mês de voltar a nascer.A memória acelera para se encostar ao presente com o avançar dos dias de Março.Estou no lado da margem, perto à minha imagem retenho uma sensação inócua de que cada ano que passa algo se esquece do corpo e sobe lembrança para a mente. E depois cheira.Ri Mãe, ri! Já não alcanço a memória ou afasto as letras que te escrevo ou murmuro alto… Aumentam-me as veias nos antebraços, mais forte no direito. Tenho medo que o calendário me avarie os braços e as árvores e as flores e as aves não possam mais sair pelos dedos.Sei Mãe, talvez deva abandonar o teu corpo nas borbulhas da outra margem e camuflar o buraco que Março menciona perto da memória do calendário com uma ponte de suspiros débeis para a vida não cair enganada.
Ana Maria Costa
03.03.2009

No princípio O murmúrio passeava-se sem calendário;
ao escuro que tudo era,
berrou.
A luz obedeceu ao som ordenado:
«Lembra-te que és pó e ao pó regressas».
Impostas cinzas em Fevereiro
— o preambulo —
chora na ponta dos dedos, meigos.


Um coração de luz
nunca se apaga
— eu sei, mesmo que seja só a sabê-lo —
sou filho também
da dor
— posso eu esquecer-me disso?!!!! —


a mesma, SEMPER!


São lancinantes os momentos
atirados à terra de Março
que um ferro rasgou.


Os meus em dois efeitos
como margens do rio
nascente no coração
a fruir para o estuário da boca
pelo caminho dos olhos.


Sou nada
a nadar na dor
na mesma data.


JFernandes

Minho actual tv