15.9.08

Palavras para o ar - 14 Setembro

Por vezes escrevo naturezas de que não me ufano. 

Doses do que me escrevo em primeira pessoa 

essa saída da pele do silêncio

descobre lágrimas do meu agasalho.



Ana Maria Costa
14 de Setembro 2008




12.9.08

Duas mulheres * Dois sentires


Pintura: A mother's love por Pino


Tatoo

I

timbre
miragem
marca eterna
luz medieval
selo d'alma
entranha
pele

Tu


Eliana Mora

II


Ele

voz nova

meia cor, marcou

perto do coração, a pele.

Ana Maria Costa

III

ele/reflexo

voz nova/o mundo/
meia cor, marcou/risco miúdo:
perto do coração, a pele/na boca, a flor.
Ana Maria Costa /Eliana Mora

IV

Ele: reflexo, rio _ e dor

voz nova/o mundo/momentos/e ritos
meia cor, marcou/
risco miúdo: vazia dor/no ventre
perto do coração, a pele/
na boca, a flor. Cresce-me./Adormeço.

Ana Maria Costa /Eliana Mora/Ana Maria Costa /Eliana Mora 

V

Ana Maria Costa diz: El, dói escrever.
Eliana Mora diz: Ana// eu sei//meu coração apertou, aqui…

8.9.08

A Fuga


I

Para além da vidraça

gente bule, corpos, formas e massas

rasgos de vidas que se adiantam

que não passam na vidraça.


Ana Maria Costa



II


Nas águas das suas sombras
deixei o meu coração
mas não o quero assombrado
dei-lhe luz, ficou clarão.

Geraldes de Carvalho

5.9.08

Um comentário que agrada conhecer.

Visitem este link e depois leiam o comentário.

http://www.leialivro.sp.gov.br/texto.php?uid=17870

Já fui reler e comentar,

É muito bom existir um espaço como o "Amantedasleituras" que interage
e potencia outras listas e que assim reforça esta teia de cultura, que
embora assente sobre um formato virtual tem toda consistência
palpável como tem sido demonstrado nas publicações e eventos produzidos.

Carlos Luanda

Obrigada caro moderador da lista Amante das Leituras que também contribui para que tal aconteça tal como diz. 

jinhos

Ana Maria Costa


4.9.08

Paradoxos


Um dia hei-de ser dono dos meus próprios acontecimentos. Hei-de acontecer como borboletas no tempo de regressar. Anoitecer num pedaço de luz. Acontecer-me na alegoria das coisas reais e na alegria das coisas poéticas. Por enquanto. Faz de conta. Faz de conta que as palavras embora desmaiadas servem para servir para alguma coisa. Por enquanto. Conto-me contos antes de adormecer. Embalo versos. Algarismos capazes de medir o peso de uma voz com cálculos de tabuada. Por enquanto. Peço ao corpo para não falecer antes de mim. Porque entre parábolas e retalhos em véspera de poesia abundam vestígios de vida baseados nos factos verídicos das tuas ilusões.
Entre parábolas. O cataclismo. De repente instante de querer ser contente…
Entre parábolas...
Quem nunca habitou um sonho por engano à beira-mar ou à beira do silêncio? Quantas toneladas mil de gente à mercê dos vazios rasgaram unhas mas aprenderam a soletrar o Inverno à distância de uma fotografia?
Paz de conta que estás em faz contigo mesmo! Como tu também eu trocaria um poema por uma flor. Os meus dois braços por um só abraço. Os meus lábios por um beijo. Os olhos por um olhar qualquer. Seja lá de quem por. For mim tanto faz. Faz de conta que o amor é o engano maior que as palavras. Estas palavras. Desordenadas e mordidas e encardidas e trocadas e erradas. Mas. Alegres em sua fértil e ténue exultação. Como tu. Trocaria. Esta casa. Esta cadeira. Esta cadeia. Esta cama. Esta repetição. Este equívoco de escrever sem seguir a gramática interior de cada sentimento.
Porquanto não escrevo línguas. Analfabeto-me em linguagens. O ponto de partida para entender os meus enganos não é a partida. Não é a quebrada ou a rachada. É a chegada. De quem nunca soube partir para sempre!
Partir. Um vidro. A alma. Partir. As cordas vocais de um grito. Partir seja lá para onde for. Seja lá com quem for. Seja longe ou preto. Seja de rosa ou azul a cor do mundo. Se já te esqueceste de nós. Se já aconteceste no calafrio que os lençóis não conseguem calar.
O espelho. Agora só. Onde me demoro a sair. O espelho. Agora sou eu a serenidade e o contentamento à porta do que ele reflecte. Agora só sementes. A terra. O sol. O sal e o sonho. Sou mar se mentes com mentiras que já não me fazem sorrir. Sou os impensamentos de alguém. Os tambores cardíacos batendo em voz alta no peito. Agora só. As borboletas. Pedaço de luz. Coisas reais. Coisas poéticas. Coisas. Contos que fazem de conta. Algarismos. Parábolas. Vestígios. Sementes. A partida. A chegada. Em véspera de poesia!
O espelho. Agora sou. Asas rastejando bem alto sobre a terra húmida que já não falo. Um dia hei-de ser. Uma noite. Um dia. Como quando o fotógrafo nos disse para sorrir e esqueci.
O espelho. Mostra-me sempre o lado imperfeito. As partes íntimas dos pensamentos que o corpo está proibido de exibir.
Entre parábolas.
também eu trocaria um poema por uma flor. Os meus dois braços por um só abraço. Os meus lábios por um beijo. Os olhos por um olhar qualquer. Seja lá de quem por. For mim tanto faz. Faz de conta que o amor é o engano maior que as palavras. Estas palavras. Desordenadas e mordidas e encardidas e trocadas e erradas. Mas. Alegres em sua fértil e ténue exultação. Como tu. Trocaria. Esta casa. Esta cadeira. Esta cadeia. Esta cama. Esta repetição. Este equívoco de escrever sem seguir a gramática interior de cada sentimento.
Porquanto não escrevo línguas. Analfabeto-me em linguagens. O ponto de partida para entender os meus enganos não é a partida. Não é a quebrada ou a rachada. É a chegada. De quem nunca soube partir para sempre!
Partir. Um vidro. A alma. Partir. As cordas vocais de um grito. Partir seja lá para onde for. Seja lá com quem for. Seja longe ou preto. Seja de rosa ou azul a cor do mundo. Se já te esqueceste de nós. Se já aconteceste no calafrio que os lençóis não conseguem calar.
O espelho. Agora só. Onde me demoro a sair. O espelho. Agora sou eu a serenidade e o contentamento à porta do que ele reflecte. Agora só sementes. A terra. O sol. O sal e o sonho. Sou mar se mentes com mentiras que já não me fazem sorrir. Sou os impensamentos de alguém. Os tambores cardíacos batendo em voz alta no peito. Agora só. As borboletas. Pedaço de luz. Coisas reais. Coisas poéticas. Coisas. Contos que fazem de conta. Algarismos. Parábolas. Vestígios. Sementes. A partida. A chegada. Em véspera de poesia!
O espelho. Agora sou. Asas rastejando bem alto sobre a terra húmida que já não falo. Um dia hei-de ser. Uma noite. Um dia. Como quando o fotógrafo nos disse para sorrir e esqueci.
O espelho. Mostra-me sempre o lado imperfeito. As partes íntimas dos pensamentos que o corpo está proibido de exibir.
Entre parábolas.
Eduardo Peixoto

Minho actual tv