29.1.07

Epigrafe de Manuel Xarepe



" nas linhas dum simples verso "

Manuel Xarepe

Nas linhas de um simples verso

o imaginário cresce sombra da linha

da esquerda para a direita.



Nas linhas de um simples verso

aumento horizontes

do princípio para o fim.



Ana Mª Costa

(fotografia de Judith Tomaz)

26.1.07

o meu mundo

(fotografia de Teresa Rosa)
Esponja
sugo o mundo.

O coração

pólos, altos gelos
crescem espremidos.



ana maria costa
25 de janeiro de 2007

20.1.07

A loja dos sorrisos


Hoje, vou comprar um sorriso, dos saldos,
na loja da esquina da rua dos Postiços.
Já o avistara, quando nasci, mas, não
tinha dinheiro.

Quando entrei na loja, estava cheia
de crianças mais novas, umas, outras
mais velhas que eu. Mal podia mexer-me.
Escorregava nas lágrimas que lavavam o chão.

À medida que me entranhava nos corredores
da loja, afastava os lábios, atractivos , que se
dirigiam para mim, mas eram mais caros do
que o sorriso que queria ter.
Era o Marketing que anunciavam na televisão.

O meu sorriso estava no fundo da loja, na secção
dos sonhos adormecidos, dentro de uma caixa de
laje branca. Com letras verdes, que a piscar,
acendiam o meu nome - aquele que não tinha -
antes de nascer. Tracei passos no mapa, a sua
direcção, esmigalhei pernas, sapatos, corações
- uns a quem conhecia - outros que só os vi
algures, uma só vez.

Passo a secção dos semblantes e gosto do mais
aberto; apercebo-me que era um desvio, para que
não comprasse o meu sorriso. Resisto à tentação.

Agarro na mão os espelhos dos meus anos,
que trago no bolso. Quebro-os na raiva dos dentes.

Na distância longínqua, perdi muito tempo a chegar
ao meu sorriso. Como um rio, que leva cheio o árido
ventre de verão; a água fica no fio do leito.

Alguém se tinha adiantado. Estava com
o meu sorriso, na mão, experimentando-o.
Não chorei logo, mas ajoelhei-me na voz
da oração; pedi a Deus que mo devolvesse.
Ele disse-me que era um engano dos anjos,
que este, não era o meu sorriso definitivo.
Comecei a cantar palavras de humilhação.
A esperança esvazia-se do meu balão.

Sei que não devo chorar novamente,
as lágrimas que se perderam no fundo
do queixo, quando saltaram para o abismo.
As lágrima são todas suicidas!

Encontro no mofo coração, o meu feitio
de mula. Com ele monto a mais alta
montanha do mundo - que nunca vi,
nem dela sei o nome.

Despi-a do gelo e da carne, enquanto
orava alto. Mais alto que qualquer
criança birrenta, mimada no colo do açúcar.

Assim, permaneci anos, - para mim séculos - não sei,
até que as nuvens choraram. Deus também!
- Foste ouvida! - disse uma besta, que me ouviu,
nas suas asas sem cor, oculta por muitos olhos.
(Iguais aos meus vendem-se na loja, na rua das Águias
Cegas, perto da loja do suposto "Meu sorriso").

Sorriso que acabo de comprar, nos saldos da hipocrisia.

Hoje finalmente, vou usá-lo,
e pensar que sou feliz.


Ana Mª Costa
19 de janeiro de 2007

imagem de Teresa Fonseca


16.1.07

Sobre a épigrafe da Alexandra Oliveira

(fotografia de Rui Pinto)

“Pousada nos ombros a cisma”

Alexandra Oliveira

É onde pouso os olhos.

Na planície das cores

dos corpos inertes

e de outros corpos iguais ao meu.

É onde pouso os olhos.

Sendo eles animais

espreitam os perigos, os alimentos

que a planície guarda na bolsa das cores.

É onde pouso os olhos.

No mundo dos vícios.

Olhos que se abrem,

olhos que se fecham

num voo raso, sem asas

no pó antepassado.

É onde pouso os olhos

e a mente. Na natureza.

Sucata sou neste mundo

que adormeço e amasso.

Do meio de ferros, destroços

pousada nos ombros das folhas da noite

desembrulho verdes, da ferrugem,

as mamas do outro mundo, o meu mundo.

É onde pouso os olhos e acredito

que cismar não muda a planície dos meus dias.

Olhos, os olhos, olhos ...

Os olhos que reflectem o pouso do dia

são dos pensamentos, que apanho do chão.

ana maria costa

13.1.07

Palavras para o ar

Talvez a poesia não seja a minha carne definitiva

Talvez seja uma pele que permanece um tempo que depois sai, na altura certa.

Talvez a minha força esteja no meu cabelo e não na poesia

Talvez seja melhor cortar a poesia da minha cabeça.

Talvez faça um daqueles penteados à skinet e fume uns charros feito de

palavras verdes.

Talvez não seja vaidosa ou radiosa como dizem os concursos

quando, na verdade, carrego a poesia desfalecida nos meus braços.

©Ana Maria Soares da Costa

12 de Janeiro de 2007

11.1.07

dedicado a Ana Maria Costa




Pinta a vaidade de humildade

Quando te fulmina, atenta e presunçosa.
Envolve, sem qualquer pergaminho da terra.
Pecaminosa, despida de verdade
O denodo que em si encerra, penetra fundo
nos teus olhos. Clama insanidade.

Quando os olhos cerras e assim mesmo
te vês, negas a candura do que pouco sabe, és
Fogo ardente das quimeras que consomem
O sábio junco da idade.

Tu! e só tu,
podes pintar a vaidade

Com os olhos da humildade.

No troante
Silêncio do despeito
Alheio à banalidade
do pensamento.


Luís Monteiro da Cunha
2007-01-10 12h52

8.1.07

(A )deus

Atravesso os dias com a sombra dos desertos.

Piso os caminhos do fundo da alma

com cactos dentro do nariz

e uma poça de lágrimas nas mãos.

O suor bebe a paciência dos canticos colados

na boca que recusa beber as lágrimas.

Disseram-me que nos oásis, as noites são obrigadas a dormirem.

Mas quem dera que eu fosse, antes, uma fera

habitante natural do (meio) instinto

não seria eu uma presa das horas das noites

cria de todos os dias.

©ana maria costa

07.01.2007

7.1.07

Corpos sem som

O link do blog do livro de :

Mónica Correia

5.1.07

eu e o Ricardo Biquinha


o sussurro nasce no fundo da boca e desce para os

teus lábios em pólen

da colmeia do amor nascem línguas com

sabor a mel

que encho nos frascos de águas

frescura de teus sons

arrolho-os com cheiro

aroma flor

e a janela esvoaça

em vento e abraços

doces, enrolados nas

folhas de prazer

Ricardo Biquinha e Ana Mª Costa

Dezembro 2006

4.1.07

Mónica Correia

eu e a Mónica Correia

Apresento-vos Mónica Correia a autora do livro "Corpos sem som".

Talento, sensibilidade e beleza é o que a Mónica oferece no seu livro.

eu, José Gil e Jorge Vicente

os três fizemos a apresentação do livro da Mónica do qual eu tive o prazer e honra de escrever o prefácio.

Obrigado Mónica!

esta sou eu no lançamento do livro da Mónica Correia

Amigos presente e assumida.

Tal como sou quando me junto com amigos de quem muito gosto, como é o caso da Mónica Correia, Alexandra Oliveira, Joseph Sherman, José Gil, Jorge Vicente, Pimenta e Alice Sequeira entre outros que se sentaram em espírito na noite de lançamento do livro "Corpos sem som" de Mónica Correia.
No próximo evento literário conto convosco para que nos possamos conhecer e fazer uma tertúlia, qui çá?

Abraços poéticos para todos vocês que me lêem sempre ou quase sempre

3.1.07

Para o Eduardo Lobo

(fotografia de José Gama)


Eduardo, obrigado pela sinceridade e abertura de diálogo.



Sabendo que do nada
que escrevo é nada
de poesia!

Sabendo que escrever
de nada é nada!

Sabendo que a matemática
é ciência e que dois mais dois
são quatro.

Sabendo que a poesia
não é, para mim, uma ciência

Porque a ciência não é nada
que se escreve
sabendo nada!


Ana Maria Costa
03.01.2007

2.1.07

Varandas

"Na varanda de meus versos,
Planto rosas nas linhas de minhas mãos. "

ARY CARLOS CARDOSO



Como na varanda dos olhos;

Se estendem nos ventos a imaginação
esculturas de pombas e naturezas mortas.


Como na varanda dos olhos;

Se estendem searas de percepções cruas
formas semelhantes a diferentes partes
para cada olho.

E, vê cada um dos olhos;

metades do fraco mundo florescido
como folhas caídas na miséria habitam, Outonos
no arame farpado farrapos de força.


E, vê cada um dos olhos;


metades do mundo de procuras
subterrâneas de estrelas (in)visuais
fosseis ou grãos de água viva.
Outros, lavram mais uma
nova doença do pousio da terra.


E, vê cada um dos olhos;

metades do mundo de passagem, nesta via rápida.
Antes da viagem, decora-se
as últimas letras do amor
ponteia-se a paz na bandeira do céu,
ou na indiferença da alma arde-se no destino.


Na varanda dos olhos;

não se sabe se as metades do mundo vivem
ou se são as metades inteiras partes mortas.

Talvez, na varanda em vez de olhos
tivéssemos linhas de flores!

©Ana maria costa
29 de Dezembro de 2006

1.1.07

Insucesso no tempo


O homem

parte o tempo

em leis!

As árvores não se importam!

Pelo contrário,

dão os braços umas às outras e procriam-se

sem preservativos.

o dinheiro

já não presta

ter muito ao tê-lo todo, não chega!

Agora

quer-se células de celicone

para acrescentar no cérebro da história.

A história

continua a chorar no pus das

leis e ambições das mesmas mentes feridas.

Talvez

as arvores nos possam ensinar como fazemos

para darmos os braços e simplesmente existirmos

como as folhas.

ana maria costa

01 de Janeiro de 2007


Minho actual tv