21.12.06

Das horas púrpuras de Amina Ruthar e Ana Mª Costa







_ das horas púrpuras _

as vozes da casa silenciam em púrpuras horas

os minutos penduram-se nos pelos do meu corpo e

todas as minhas ausências sentam-se a mesa

excepto uma _ que guardo no bolso do peito

que ainda respira o último fôlego de memórias

nos rebentos de arvores jovens crescem

tímidas as palavras de seus recuos regressadas

dentro da gaveta da mesa saem costelas e

ancoram-se inutilmente entre vãos das portas

entre o trinque e a fechadura da campa

os passos de meu pai atravessando os sonhos

da terra fofa, mais húmus de carne do que de flores e

dizem de vesperais melancólicos sobre o jardim

lágrimas que regam os novos rebentos

e as mãos de minha mãe ainda alisando lutos

sobre o choro do lenço que a cobre à noite e

retiram o pó e fuligem do tempo que me devora

é esta a carne que tapa a cova do meu pai

em mudez plástica deus vai e vem como um tijolo:

o diabo põem-se no seu caminho com todo o inferno frio e

- esmaga minha história!

Amina Ruthar e Ana Mª Costa



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