
" nas linhas dum simples verso "
Manuel Xarepe
o imaginário cresce sombra da linha
da esquerda para a direita.
Nas linhas de um simples verso
aumento horizontes
do princípio para o fim.
Ana Mª Costa
(fotografia de Judith Tomaz)
Se a água do rio me beija sou eu pedra no seu curso. Ana Maria Costa
imagem de Teresa Fonseca
“Pousada nos ombros a cisma”
Alexandra Oliveira
É onde pouso os olhos.
Na planície das cores
dos corpos inertes
e de outros corpos iguais ao meu.
É onde pouso os olhos.
Sendo eles animais
espreitam os perigos, os alimentos
que a planície guarda na bolsa das cores.
É onde pouso os olhos.
No mundo dos vícios.
Olhos que se abrem,
olhos que se fecham
num voo raso, sem asas
no pó antepassado.
É onde pouso os olhos
e a mente. Na natureza.
Sucata sou neste mundo
que adormeço e amasso.
Do meio de ferros, destroços
pousada nos ombros das folhas da noite
desembrulho verdes, da ferrugem,
as mamas do outro mundo, o meu mundo.
É onde pouso os olhos e acredito
que cismar não muda a planície dos meus dias.
Olhos, os olhos, olhos ...
Os olhos que reflectem o pouso do dia
são dos pensamentos, que apanho do chão.
ana maria costa
Talvez a poesia não seja a minha carne definitiva
Talvez seja uma pele que permanece um tempo que depois sai, na altura certa.
Talvez a minha força esteja no meu cabelo e não na poesia
Talvez seja melhor cortar a poesia da minha cabeça.
Talvez faça um daqueles penteados à skinet e fume uns charros feito de
palavras verdes.
Talvez não seja vaidosa ou radiosa como dizem os concursos
quando, na verdade, carrego a poesia desfalecida nos meus braços.
©Ana Maria Soares da Costa
12 de Janeiro de 2007
Atravesso os dias com a sombra dos desertos.
Piso os caminhos do fundo da alma
com cactos dentro do nariz
e uma poça de lágrimas nas mãos.
O suor bebe a paciência dos canticos colados
na boca que recusa beber as lágrimas.
Disseram-me que nos oásis, as noites são obrigadas a dormirem.
Mas quem dera que eu fosse, antes, uma fera
habitante natural do (meio) instinto
não seria eu uma presa das horas das noites
cria de todos os dias.
©ana maria costa
07.01.2007
o sussurro nasce no fundo da boca e desce para os
teus lábios em pólen
da colmeia do amor nascem línguas com
sabor a mel
que encho nos frascos de águas
frescura de teus sons
arrolho-os com cheiro
aroma flor
e a janela esvoaça
em vento e abraços
doces, enrolados nas
folhas de prazer
Ricardo Biquinha e Ana Mª Costa
Dezembro 2006
O homem
parte o tempo
em leis!
As árvores não se importam!
Pelo contrário,
dão os braços umas às outras e procriam-se
sem preservativos.
o dinheiro
já não presta
ter muito ao tê-lo todo, não chega!
Agora
quer-se células de celicone
para acrescentar no cérebro da história.
A história
continua a chorar no pus das
leis e ambições das mesmas mentes feridas.
Talvez
as arvores nos possam ensinar como fazemos
para darmos os braços e simplesmente existirmos
como as folhas.
ana maria costa
01 de Janeiro de 2007