28.12.06

Eliana Mora (Brasil) e Ana Mª Costa

(fotografia de Teresa Rocha)
I

Minha saudade parou

como um lago

quando nem brisa há.

E ficou a esperar, a esperar...


II



teu lago de veias

move o meu coração

o corpo
pára no lago

a brisa
espera na pele.



III


a fome espera na tarde


macia


sedenta


IV

é
na manhã
bronze


dura


lisa


que trinco os minutos.


V


lentos


como fardos, eles escorrem


e eu apenas a observar


a cena


VI


impeço com o dedo


o
embaciar do vidro


olho


o cuspo lento


da temperatura do dia.



VII

como que para retardá-lo


e pudesse [quem sabe]


sobreviver ainda


à falta tua


VIII



pára
o rio na boca do mar
e
os lábios secos
na humidade da língua
eu
não paro!
retardo-me
no vidro, corpo areia.


IX


e sigo
a alimentar-me de um fogo
fato, apenas
o leito
são mãos a permear-me


X


Bate
a marreta no peito
e
incessantemente
chispam
labaredas da boca.


XI


o caos espalha-se
como que a perceber os caminho
sem que voo


XII


queimo o corpo num fósforo
e
um grito dentro da garrafa
bóia
no mar de ossos.


XIII


rezo

para quem vão meus pedires
não me pergunte
eles seque saem daqui da garganta
talvez nem chore mais
rasga-se o mapa


XIV


ligo uma mangueira
dos meu olhos aos teus
siamesas
extinguimos falhas.


XV


e nos unimos

como gotas do mesmo orvalho
da mesma folha
para que na pureza
possamos conseguir a graça


XVI


abrimos o ventre do céu
entramos na luz parteira
e chupamos o mesmo dedo.



XVII


até encontrar o espaço
o regaço
a tão esperada paz


XVIII


a espera termina viva
_ na saudade!
a brisa
levanta-se da pele
o lago
mexe o corpo
e os teus olhos
levo-os
no meu cesto cheio de maçãs!


Eliana Mora e Ana Mª Costa


15 de Dezembro de 2006

3 comentários:

Charlie disse...

Mexe-me a saliva
em ondas
de doces sabores
por entre as margens
do teu corpo.
Umas após outras
peças de arte
sem nome
Apenas maçãs
rolando
por entre os dedos
onde se afogam
nus
os segredos
no cesto
das minhas fomes.

Carlos Luanda.

Amaral disse...

No cesto dos teus olhos
como gotas do mesmo orvalho
minha saudade parou

e eu apenas a observar
o rio na boca do mar...

Belíssimo dueto!...

Alberto Oliveira disse...

... um belo dueto!

Votos de óptimo 2007!

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