13.8.07

Quotidiano

quadro


Existe um lugar conhecido pelo Fortim

onde a inspiração é suprimida pelo dever.

Esse lugar

na garganta frui um exército que pesa as horas

(não podem entrar com horas a menos ou levarem o equitativo)

Colocam na balança o nosso corpo medem a nossa moleza

e anotam tudo num quadro dentro do computador.

Depois

tens ordem para desalojar o coração do corpo ardil

com a carne e o teu nome,

tudo

remanesce inacessível dentro dos teus olhos.

Ulteriormente a fila de esqueletos humanos

aumenta com a tua vinda

procuras

o teu, no cheiro de sangue ainda fresco

é lá que penduras o casaco mais o resto da menstruação.

Aguardas que te enrolem o corpo com teias de aranha

E, abalas

com as veias vazias. Os reclusos olhos. Um corpo mendigo.

Fustiga nos ouvidos.

A montanha

das tarefas segue-te

como um animal fiel segue o dono até casa

rindo-se e dando ao rabo.

É tolerado…

murmurares algumas palavras durante o dia

Eu

só consumo uma no ar do Fortim

as outras deixo-as por aqui ….

Ana Mª Costa

12 de Agosto de 2007

4 comentários:

José Alexandre Ramos disse...

bravo! divinal! errr.. eu conheço o fortim, parece-me... :-|

(está mesmo muito bem escrito, caramba!)

Bichodeconta disse...

Que delicia ler-te.Parabéns.. Um abraço, Ell

Vera Carvalho disse...

Minha querida Ana,
arrepiei-me com a frieza das palavras e carrego-as às costas como um fardo e pesam!
Esplêndido aquilo que consegues transmitir.
Daqui envio-te um abraço saudoso mas um beijo enorme.

Zé Miguel Gomes disse...

Bonito seria dizer pouco...

Fica bem,
Miguel

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