6.5.08

Homenagem à Fiu


Epitáfio da Fiu


Neste momento, sei que te estou a magoar porque não gostas de coisas tristes mas a verdade é que não consigo deixar de pensar em ti. Um dia destes sem me dizeres que partias, senti nas partes intimas um lume já meu conhecido, um sinal que o meu corpo diz quando alguém que se encontra ligado ao meu coração, parte para longe.

Passei no consultório do médico curiosa e preocupada. Depois fiquei pior com a sua atitude quando disse que não precisava de fazer análises à minha temperatura ou tirar sangue ao coração. Mandou-me embora com o diagnóstico a explicar que a labareda que eu sentia eram as cruzes dos túmulos que forçavam a entrada no corpo, para se enterrarem no coração.

Saí do consultório mais pensativa e mais preocupada do que quando lá entrei. Questionei-me. O que vai ser de mim no futuro, se morre no mesmo dia mais do que uma pessoa de quem gosto? Será que nesse dia vou arder toda?


Esqueci-me de dizer ao Sr. Dr., que não era da especialidade de pediatria, que entretanto, o sinal passa de baixo para cima para onde está uma criança. Que sou eu. Estou por detrás dos olhos, faço-os accionar e do lume passo a sentir água. Se calhar talvez deveria consultar um sapador de bombeiros ou um oftalmologista?

Fiu

Tudo o que te digo pode parecer coisa exagerada ou um disparate e fingimento. Porque só nos vimos uma vez, lembras-te? Daquela vez que me mostras-te a tua infância e eu a ti a minha, a que estava nos meus olhos!
Gostamos tanto uma da outra e do que repartimos que quiseste ficar comigo para sempre e entraste no meu outro olho. De uma forma fácil como todas as crianças costumam dividir as suas coisas fizemos a nossa divisão, tiramos um olho para mim, outro para ti.

Nesse dia, chegamos à conclusão que víamos e chorávamos as mesmas coisas. Agora que decidiste partir, desço ao meu coração para junto do teu epitáfio, Num saquinho de veludo bordeaux levo o teu olho porque lá está escrito "Volta sempre! Traz o olho e flores". Atrapalhada acrescentei por baixo da tua frase, “Procurei as flores mas não as encontrei! Não achas isso um mistério?”



Ana Maria Costa
04.05.08

1 comentário:

Anónimo disse...

Comentários para quê?
O que uma pessoa sensível que ás vezes diz que não sabe escrever o que não é verdade.
A humildade é um sentimento nobre e fica bem a qualquer um.
Parabéns com um Beijo
eazevedo - o amigo do alentejo...lolrsrsrsrsrs

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