16.1.07

Sobre a épigrafe da Alexandra Oliveira

(fotografia de Rui Pinto)

“Pousada nos ombros a cisma”

Alexandra Oliveira

É onde pouso os olhos.

Na planície das cores

dos corpos inertes

e de outros corpos iguais ao meu.

É onde pouso os olhos.

Sendo eles animais

espreitam os perigos, os alimentos

que a planície guarda na bolsa das cores.

É onde pouso os olhos.

No mundo dos vícios.

Olhos que se abrem,

olhos que se fecham

num voo raso, sem asas

no pó antepassado.

É onde pouso os olhos

e a mente. Na natureza.

Sucata sou neste mundo

que adormeço e amasso.

Do meio de ferros, destroços

pousada nos ombros das folhas da noite

desembrulho verdes, da ferrugem,

as mamas do outro mundo, o meu mundo.

É onde pouso os olhos e acredito

que cismar não muda a planície dos meus dias.

Olhos, os olhos, olhos ...

Os olhos que reflectem o pouso do dia

são dos pensamentos, que apanho do chão.

ana maria costa

10 comentários:

Anónimo disse...

Minha queridAna,
Depois de tanto te espiar por entre janelas, portas, frestas, me deparo agora com a beleza de novas palavras, novas emoções.
Lindo poema, minha amiga. Vou dormir saciado, até nova sede de você.
Um beijo afetuoso, Poeta.

Iara Maria Carvalho disse...

apanhar pensamentos...como num ritual meio profano, meio profético.

sua poesia tem seus olhos, linda Ana!

beijos...

P.S: não consegui entrar no grupo para o qual me convidou, como faço?
beijos de novo...rsrs

Alberto Oliveira disse...

"... que apanho do chão"
que olho e aperto
na palma da mão.


Mais tarde liberto-os em forma de escrita. Que as letras devem ser partilhadas...

victor simoes disse...

Olá Ana Maria.
Mais um blogue que promete, gosto da sua poesia. Bom trabalho. Aproveite para migrar o seu blogue para beta, tem muito mais potencialidades na edição.
Gostaria de a convidar a colaborar no blogue de A Voz do Povo. Enviar-lhe-ei um link para aceder.
Já contamos com a participação de um Maito, que se identifica no nosso espaço como Zé Faria.
Eu trabalho também na sua cidade, propriamente em Vermoim, na Ficocables.

Um beijinho

Anónimo disse...

Também sinto que a cisma não muda a planície dos meus dias, ao contrário aguça. Eu a vejo daqui apanhando os pensamentos do chão de uma imensa plantação. Riodaqui leva 1 beijo na correnteza. Paulo Vigu

A. M. Catarino disse...

vale sempre a pena vir olhar (e ver) as tuas palavras ;-)

beijinhos

Anónimo disse...

os olhos dizem tudo...no fundo eles nos mostram...e diz quem somos....bom sempre que posso venho aqui..adoro ler os seus texto...principalmente em momentos dificeis..como agora..e claro que ainda continua adoro o que escreve...bom até mais....

MiaHari disse...

Lindo!
................................
...ou dos pensamentos que lanças ao vento.

Um abraço para ti.

Garcia disse...

Cara Ana Maria:

As palavras devem ser ditas e não meros instrumentos ocultos... As palavras devem ser um meio de comunicação da verdade...

Obrigado

Zé Miguel Gomes disse...

Os olhos que reflectem o pouso do dia
são dos pensamentos, que apanho do chão...

Bonito.

Fica bem,
Miguel

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