4.10.07

Desafio de poesia da lista "Amantedasleituras"


"a borboleta brilha como quem chama… grita a palavra fim "
de Xavier Zarco, in: "aguarda a seara a ceifeira"

01
Brilhas mais que o sol
entre as folhas do tempo
retalhado.
O grito nos intervalos
e gargantas de ninguém.
Posas nua
e é o meu olhar
que pelo teu corpo esvoaça.
E no instante que não quer que passe

empurra o tempo...

02
... efémera borboleta, parpadeante, quando se avista,
mancha de tinta numa paleta, adeus constante que se afasta,
contrasta,
campos vazios,
transparências coloridas, asas que foram desafios,
searas sem ceifeiras, semáforos ineficazes
em ruralidades fugazes,

sinfonia que se esfumou,
dum tempo que já passou,

canção da terra numa crisálida desiludida,
longe do ciclo perfeito, constante renascer,
casulo em que a lagarta se cerra,
retornando, porque perdida,
ínfimo apontamento em que se enterra,
papoila esvoaçante que não despega,
hesitante, fechando belezas,
seus brios,

promessa que foi relance, curta existência,
formosura arrastada por um sopro,
alcance,
brilhando ao entardecer,
beijo silencioso,
adocicado,
leve,
macio,
recomeço do que acaba,
mesmo que persista num lapso, momento,
ternura
numa forma, esplendor numa gravura,

encaixe na retina,
aglomerado esbelto de cor,
asas que batem mansamente, fazendo parte do vento,
linda, bela,
levemente,
lá vai ela,

misturada nas searas d´outrora que se estendiam
a perder de vista,
oceanos verdes que nos sorriam,
vergando, quando sopradas,
onduladas,
pintalgadas de papoilas vermelhas,

borboletas luxuriosas,
pontos que embelezavam
quando voavam,
passavam,
acompanhando ritmo da natureza,
buscando destinos comuns,
equilíbrio natural, rusticidade pujante,
tão formosas,
bem distintas,

lagartas que agora congelam, param na evolução,
transformação,
tempos que tudo alteram nos campos,
insensata negação,
ceifeiras que são extemporâneas visões,
searas inexistentes,
transparência que se não aprecia,
borboleta d´asas rendadas,
recordação,
fim dum encantamento,
numa época... afastamento!!!...
03
chama a chama que te ilumina
como uma borboleta na parede
onde o teu corpo te espera
lindo o fogo que a verdade encerra
no limite das asas da borboleta
como um cão a ladrar dentro
do poema
04
fala palavras
que nos apertam

o vôo da borboleta,
nesta manhã

magia que brilha
chama... gritam

no meu corpo
os ecos da noite,
sonolentos
bêbados sons

05
Ao abrigo do sol
a voz febril dos sonhos
oculta
a cada novo fonema,
o canto do melro
o vôo da borboleta indefesa
- grita a essência
da palavra -
06
brilha, ainda tens luz própria
em tuas asas

que não seja pelo chamamento,
o teu brilho, mas pelo prazer
de seres
e por esqueceres, por fim,
o que te iluminava

por ti a manhã morde o pensamento

voa com ele no cinza,
e também no azul. desfruta.
o amor é sentimentalismo, deixa-o
(fica bem na poesia dos humanos)

nada te cerceia a vida, ou prende o vôo
– sabes - a não ser tu mesma.

07
Pareces saber que é teu
Todo o tempo do mundo
Afadigas as asas na descoberta
De olores mais belos e sôfregos
Que o prazer algum dia descobriu
O minuto é apenas a eternidade
Porque catalogar a existência
Do muito apoucado de que sobrevive
Se a ânsia é o motor voraz das coisas
e as sobrevoa sem que se aquiete
nunca brilhará na chama
porque existir
08
O pintor precisa da tinta
para pintar poesias,
o poeta precisa de palavras
supra-sumo da essência
de todas as cores,
para pintar poemas
consubstanciados na vida.

A borboleta não tem cores,
ela é colorida!
As cores é do poeta,
as cores são minhas
que tento colorir
o mundo em poesias.
para pintar a vida

09
Observo-te nua de cores
Asas o vento mastiga ao teu redor
Alma sincera te aguarda
Destino dos homens devorar de ti
O que a alma guarda.

Por entre pétalas pestanejando
Sobrevoando o rio materno
Água doce da cor de um sonho
Agarra-te consumida
Nas mãos do Inverno.

Observo-te nua e perfeita
Num ritual sombreado de desconjuntura
São palavras mentidas ao vento
Nos lábios despidos de ternura.

Vestes do pó da terra a vida
Lá longe ainda se escutam sorrisos
não fosse o horizonte tão distante
Serias tu verdadeira e nós, submissos.

Respira-se ainda um pouco de sol
Rasgaste os céus com palavras mudas
As mãos no alto suplicam a um deus
Que tragas voando nas asas tuas.

Esperança...

Esperança.

10
e da queda do verso volta
a palavra, com vários solos
agarrados à pele
sim, é meu o tempo de trabalhar
a voz, estudo a poética do timbre

sua dentro de mim outro corpo
odores belos com sofreguidão
mantêm meus poros abertos

e o poema Vibra.
vibra como a flama
em cada beijo-borboleta
e cheira a suor a morte,
transfigurada em vida

somos discípula e mestre.
mais nenhuma revelação é possível,
nem é permeável a carne
com que construímos o poema.

11
... queda do verso, palavras que caem,
jeito que tem
quando convém,
poro que respira,
pele que sua,
imagem bonita, permeável que vibra,
timbre que soa,
borboleta que voa,

poética, também,
espelho côncavo, deturpante,
enganador,
figura que distorce realidade diminuta,
pequeno gigante,
todo um senhor,

extrapola-se a fonte, disfarça-se a matriz,
quase se contradiz,
sonho frontal, seara que espalha,
vento que não bule numa tarde calma,

asas com ritmo, belas, lentas,
paragem que tentas,
colapso tardio
que se arrasta, final do que esperas
naquelas terras,
quantas Primaveras,
início do Estio,

parábola que espanta,
sem doutrina moral, alegoria,
simples geometria,
equidistante dum foco, duma directriz,
como quem diz,
curva num plano
que não finge...
sem engano!!!...
12
há animais que nos ensinam
a arte das formas e cores
é assim uma borboleta
bela voando sobre flores
querendo captar do seu voo
um poema mal a descreve
nu desejo de deixar um ovo
e já «grita a palavra fim»
FIM
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Índice de autores:
01 – Carlos Luanda
02 – Manuel Xarepe
03 – José Gil
04 – Sónia Regina
05 – Andréa Motta
06 – Sónia Regina
07 – LMCunha
08 – JASilva
09 – Paulo Themudo
10 – Sónia Regina
11 – Manuel Xarepe
12 – Francisco Coimbra

2 comentários:

Anónimo disse...

E és tu que me borboleteias com o teu sorriso cheio de luz.

Bichodeconta disse...

Estou encantada, posso até confessar que com um pouco de saudável inveja.. Preciso de um encontrão, preciso de ganhar coragem... Um beijinho, ell

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