8.4.10

Texto dedicado à mãe de Alexandra Oliveira

Foto: Maria Avelino

Fiu


Gostava de passear nas madrugadas com um cesto de palha enrolado no braço,um lenço no pescoço, um chapéu na cabeça e um cigarro na boca!, apanhava as rosas e as manhãs húmidas para o cesto antes que todos da casa acordassem.
Na visita pela cavalariça a *Chá Verde,* a égua que nasceu no ano passado esperava-a com um olhar terno para um só toque no pescoço. Os outros cavalos permaneciam deitados a acenar com a cabeça e uma pata. Depois das cavalariças os carreiros verdes debaixo das vinhas, era a vez do silêncio dos cães, dos patos, dos perus, dos ratos chinos, das galinhas exóticas, dos gatos e do vinho porque a uva nascia. Perto de todos, o tanque com peixes
movia as águas para a erva e das ervas para os sonhos.
Há um barco com velas nos seus desenhos, traços leves de nuvens, ventos suaves que levantam vírgulas da paisagem e largam rumo à imaginação. Os seus poemas soltos nos cabelos, os pontos que se movem nos peitos., A frase na pele….Há um rosto erguido com um chapéu numa folha de papel e pequenas alegrias deitadas na areia da sua praia. Mas nem tudo era fruto ou imaginação no cesto, havia também um papel envolto em laços de pano vermelho que trazia perto da sua juventude.
No caminho, a sua história aproxima-se dos picos das rosas que vão dentro do cesto quando finalmente chega a casa... O cesto cheio é levado para o seu quarto e com custo pousado nos ombros da cama!, dele retira uma a uma as peças do sonho que crava nas gavetas antes de voltar à moléstia que suspendia os seus desenhos.



Ana Maria Costa

Minho actual tv